Não sei se você já ouviu essa história, mas ela começa assim...
Estava um velho homem em sua casa. Em um momento de descanso de sua rotina (de ir para a rua, resolver problemas, ler o jornal, sair com o cachorro, entre outras), começou a relembrar sua vida. Passara por diversos momentos, tantos tenebrosos, quanto gratificantes.
Se lembra de quando era pequeno. era um tempo bom. lembrava-se das brincadeiras de pega-pega, esconde-esconde, pião, bolinha de gude (sim, fora um exímio jogador de bolinhas de gude, cujas bolinhas guardara por tanto tempo, passado para seu filho e, então para seu neto que acabara de completar 12 anos).
Então, lhe veio à memória os tempos de juventude, onde começara a trabalhar, na idade de 14 anos, com o pai na mercearia. Algum tempo depois, conheceu o amor da sua vida, mas ela morava em outra cidade (ela estava apenas de passagem por aquela pacata cidade do interior).
Não se importando com seu trabalho ou seu futuro, largou tudo para trás e foi em direção ao seu amor. Noivou com ela quando teve a oportunidade de abrir uma fábrica de doces (sim, cocada! Porque ninguém teve a idéia brilhante de fazer uma fábrica de cocadas ainda?).
A partir daí, sua vida deslanchou. Viajou para muitas cidades, à pedido de clientes dispostos à vender suas cocadas. Paris, Londres, New York, Buenos Aires, Montevidéu, sem falar dentro do Brasil.
Mas nunca deixou de lado sua família, passava apenas alguns dias no exterior (somente o necessário para fechar o negócio e então partia). Sua esposa, seus filhos, enfim, suafamilia era sua riqueza, pois abandonara tudo por ela no começo, e não seria agora que iria abandoná-la.
Lembrou-se, então, dos momentos em familia. Os Almoços de domingo onde toda a familia estava reunida. Brincadeiras e risos voavam por toda a casa. Veio-lhe uma memória triste, o momento que viu sua esposa morrer. Ao se lembrar disso, lágrimas escorrem pelo rosto. A morte de seu primeiro filho, num acidente brutal, aumenta ainda mais as lágrimas. Enxugou as lágrimas e lembrou-se dos outros filhos. Como era recompensante o pensamento de vê-los crescerem, tanto fisicamente, quanto profissionalmente.
Porém, as memórias acabaram. e num lapso, não se lembrara onde estava ou o que estava fazendo. Viu o horizonte de forma vertical. O Alzheimer atacara novamente. Sentiu-se fraco. A ultima vista que teve foi apenas alguns homens de branco vindo em sua direção.
Quando acordou, sentia-se cansado. Estava naquele mesmo lugar fechado há anos. Sentiu saudades de sua familia. Quanto tempo faz que não vê seus filhos? 6 meses? não se lembra mais. O Alzheimer não deixa se lembrar de algumas lembranças recentes.
Sentiu-se só. Deseja apenas uma morte tranquila. Via apenas escuridão e solidão deitado num cama. Por fim realizara que a rotina era estar sozinho. Realizara que aquela não era mais a sua casa, mas uma clinica geriátrica.
Cuidou tanto de sua familia. Hoje, sua familia não se interessa por ele. Hoje se mantem sozinho numa clinica junto com outros idosos separados de suas familias indiferentes.
By Dante Pendragon
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